Estamos construindo um país mais generoso?

Nesta terça-feira, dia 3 de dezembro, acontece o Dia de Doar, uma iniciativa internacional que promove a generosidade e a solidariedade, conectando, inspirando e mobilizando pessoas a contribuírem para causas sociais. O Dia de Doar é mais do que uma ação pontual de solidariedade, representa um esforço contínuo para fortalecer a cultura de doação no mundo. Mas como saber se iniciativas como esta, entre tantas outras, estão realmente conseguindo promover uma mudança cultural significativa aqui no Brasil?

Para responder a essa pergunta, o Movimento por Uma Cultura de Doação (MCD), lançou recentemente o Termômetro da Doação, que nos traz uma referência sobre o ponto em que estamos no desenvolvimento de uma cultura de doação no Brasil. Fundado em 2013, o MCD reúne pessoas e organizações da sociedade civil (OSC) para semear e cultivar práticas de doação em todo o país.

Neste contexto, a publicação recente do Termômetro da Doação é disruptiva, pois oferece parâmetros que nos ajudam a verificar em que áreas estamos avançando, em quais estagnamos e em quais regredimos enquanto sociedade, funcionando como um termômetro literal do setor. 

Se olharmos em termos globais, o Termômetro mostra que o Brasil está em “desenvolvimento”, na medida em que houve variações positivas no volume (total e valores médios) de doações de pessoas físicas e jurídicas nos últimos anos. Mas, por outro lado, partimos de uma base de volumes bastante baixos de doações, em torno de 0,15% do PIB, que vêm diminuindo nos últimos anos.

No que diz respeito à educação para uma cultura de doação, os dados mostram estagnação. De acordo com os parâmetros do Termômetro, há poucas escolas e universidades envolvidas em iniciativas educacionais para a cultura de doação, poucas iniciativas para a qualificação de formadores de opinião e, pior, com uma diminuição no percentual de pessoas que dizem valorizar ideais como solidariedade, compromisso cidadão e bem-estar coletivo.

Além de estimular, é essencial facilitar a doação. Faz-se necessário superar as barreiras tributárias, simplificar o sistema de uso dos incentivos fiscais e democratizar o acesso aos serviços bancários para doações. Investir em novas tecnologias que promovam pontes diretas entre doadores e donatários, fomentando a transparência e a divulgação de boas práticas e de informações de qualidade sobre o impacto social promovido.

Esses e outros dados como a dificuldade de acesso a serviços bancários pelas OSC, ou a confiança da sociedade nestas organizações, apontam para áreas que precisam ser trabalhadas na comunicação do Terceiro Setor, seja na publicação de relatórios de atividades, de auditorias, como na demonstração dos resultados que geram. A sociedade e os responsáveis por políticas públicas precisam perceber que doar não é apenas uma ação de caridade, mas um investimento em um futuro melhor.

Para que o ecossistema de doação possa atuar de forma estratégica e influenciar efetivamente essa cultura, é essencial que sejamos capazes de observar, enquanto sociedade, se estamos realmente nos tornando uma nação mais generosa. Isso requer monitorar, avaliar e analisar dados que revelem o cenário atual, mostrem os obstáculos e oportunidades para que instituições e cidadãos possam agir de maneira estratégica e consciente. 

Monitorar e avaliar o desenvolvimento da cultura de doação não é só uma questão de mapear números. Esse processo contribui para o fortalecimento do ecossistema de doação como um todo, guiando políticas públicas, incentivando mudanças legislativas e fortalecendo organizações da sociedade civil. 

Neste Dia de Doar, refletir sobre a cultura de doação é também entender o papel do monitoramento e avaliação. Ferramentas como o Termômetro da Doação ajudam a guiar o desenvolvimento da cultura de solidariedade no Brasil, fornecendo dados e análises que estimulam ações efetivas. Com mais pessoas e organizações engajadas, o Brasil pode construir uma sociedade mais generosa, onde doar faz parte do cotidiano e onde o impacto social é valorizado e potencializado.

Camila Cirillo

Diretora da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação

Coordenadora da Agenda de Avaliação do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

Esse texto foi publicado na plataforma Nexo Jornal. Confira aqui

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