Avaliação e Mudanças Climáticas: Confira debate sobre papel Transformador do M&A

A Revista Brasileira de Avaliação (RBAVAL), editada pela Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação (RBMA), lançou uma edição especial dedicada ao tema da avaliação e mudanças climáticas. A publicação, que contempla 10 artigos e duas entrevistas, resultou em um debate online, parte da programação Semana de Avaliação Glocal de 2025, que reuniu especialistas para discutir o conteúdo da edição e o papel crucial da avaliação na construção de um futuro sustentável diante da emergência climática. O tema do debate, realizado em 4 de junho, foi “Construindo um Futuro Sustentável: o Papel da Avaliação nas Mudanças Climáticas”.

A sessão contou com a participação de Ana Maria Carneiro, pesquisadora da Unicamp e editora-chefe da RBAVAL; Martina Rillo Otero, gerente de planejamento, avaliação e aprendizagem do Instituto Clima e Sociedade (iCS);  Marcelo Mozaner, especialista em monitoramento e avaliação; e Felipe Jukemura, pesquisador da Fundação José Luiz Egídio Setúbal e líder de finanças verdes e inovação na ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade). 

As mudanças climáticas foram descritas como um fenômeno complexo e transversal, impactando praticamente todas as ações humanas e setores, desde economia e política até saúde e infraestrutura. Atualmente, vivemos um estado de emergência climática, com causas diversas e consequências já visíveis e desigualmente distribuídas. O desafio de lidar com as mudanças climáticas vai além da questão ambiental, sendo também social e político.

Um dos pontos centrais da discussão foi a necessidade de repensar os paradigmas de avaliação. Os modelos tradicionais, muitas vezes lineares, fragmentam a realidade e, não capturam adequadamente a complexidade das causas e efeitos das mudanças climáticas. A crise climática exige um pensamento e práticas de avaliação sistêmicas e complexas.

A avaliação é vista como fundamental para contribuir no enfrentamento dessa crise, ao ajudar  a desenvolver políticas e ações mais efetivas. No entanto, o campo da avaliação enfrenta desafios específicos ao abordar as mudanças climáticas. Por exemplo,  adaptação climática é caracterizada como um “problema cabeludo” (wicked problem), que possui características como urgência e tempo limitado para agir, ausência de uma autoridade central, onde nenhuma entidade isolada consegue controlar o problema totalmente, decisões que “minam o futuro”, pois respostas de curto prazo influenciam soluções de longo prazo, efeitos visíveis, com grande grau de incerteza, e desigualmente distribuídos.

Além disso, a dificuldade de acesso a finanças climáticas para adaptação, especialmente para o sul global e organizações de base, foi mencionada como outro grande desafio. A avaliação, ao ajudar a contar as “histórias” de mudança de forma sistematizada e legítima, pode se tornar uma “moeda de troca” para que essas organizações consigam pleitear recursos.

A metodologia Outcome Harvesting (Colheita de Resultados) foi apresentada como uma abordagem qualitativa valiosa para contextos complexos e organizações de base. Ela se baseia em relatos de mudanças validadas, focando na descrição da mudança, sua contribuição, importância e evidências. Esta metodologia é considerada adequada para lidar com a dificuldade de atribuição e a diversidade de atores, além de ter um aspecto anticolonialista ao valorizar narrativas e capacidades locais.

A avaliação desempenha um papel fundamental na promoção da resiliência climática, entendida como a capacidade de aprender a lidar com as mudanças. Uma avaliação bem desenhada funciona como um instrumento central para o aprendizado contínuo, detectando fragilidades, gerando evidências para decisões adaptativas e estimulando uma cultura de adaptação. Envolver a própria comunidade no M&A fortalece as capacidades institucionais, sociais, políticas e técnicas.

Em relação às competências dos avaliadores, destacou-se a necessidade de flexibilidade, criatividade e a capacidade de desafiar estruturas lineares, promovendo a gestão adaptativa e a correção de rota. O uso de métodos mistos é considerado fundamental, mas ainda exige esforços para convencer todos os atores sobre sua validade e complementaridade. Ferramentas como rubricas de avaliação podem ajudar a traduzir julgamentos complexos de forma comunicável. A inteligência artificial e algoritmos de análise de texto podem auxiliar no processamento de dados qualitativos, mas não substituem o olhar humano e o processo formativo da avaliação participativa.

A gravação completa da sessão estará disponível no canal do YouTube da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação (RBMA).

Sobre a Revista Brasileira de Avaliação (RBAVAL): Editada pela Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação, a RBAVAL foi criada em 2011 e retomada pela rede em 2020. Segue as melhores práticas de editoria científica, com fluxo contínuo e acesso aberto. Sua missão é promover o uso das avaliações e garantir direitos civis, políticos, ambientais e sociais no Brasil.

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